Encravado no centro de São Paulo, o primeiro arranha-céu da Capital tem muitas histórias para contar.
Planejado e construído pelo seu proprietário, o comendador Giuseppe Martinelli, a partir de 1929 o edifício encantou gerações de visitantes. Seja pelo uso da tecnologia do concreto armado, até então desconhecida no País, pelo requinte de sua arquitetura ou pelas instituições, eventos e pessoas que abrigou, o prédio Martinelli se firmou na paisagem e na história da cidade como ponto de referência e síntese da própria condição de São Paulo - um espaço de vanguarda, em constante expansão e autossuperação.
Agora com 80 anos, o Martinelli oferece mais uma lição de modernidade, desta vez mostrando que procedimentos técnico-operacionais são indispensáveis para a promoção do uso racional da água.
O PURA - Programa de Uso Racional da Água da Sabesp foi implantado no prédio pela Cobrape em dezembro do ano passado; hoje, seus resultados estão impressos na conta de água - R$ 12.000,00 por mês é o que a administração do edifício deixa de gastar.
"Com a economia, pudemos pagar parte da reforma da Casa do Comendador", comemora Walter Camargo, administrador do prédio. A Casa do Comendador é um ponto de interesse turístico e histórico e ocupava os quatro últimos andares do prédio. No local onde o comendador Giuseppe Martinelli morou com sua família para provar que o edifício não cairia, uma vista panorâmica da cidade surpreende o visitante.
Uso racional da água - a história do prédio Martinelli
Surpreendente também é a história do uso racional da água no prédio, que desde 2004 tem uma administração voltada para esse tema.
Além dos cuidados com a manutenção das tubulações, válvulas, torneiras e da vigilância diária do hidrômetro, o administrador Walter Camargo também se encarregou de instituir a Agenda Ambiental na Administração Pública - A3P no edifício, um programa do governo federal adotado pela prefeitura de São Paulo que tem por objetivo a busca da sustentabilidade socioambiental. Segundo Camargo, a manutenção rigorosa e a A3P diminuíram o consumo de água no prédio em cerca de mil metros cúbicos por mês entre 2004 e 2008.
Quando a Cobrape iniciou o processo de implantação do PURA no prédio, o diagnóstico feito pelos técnicos identificou o sucesso dessas ações. Com o relatório em mãos, a primeira observação de Ramon Velloso de Oliveira, engenheiro responsável pelos contratos do PURA, foi imaginar como seria difícil atingir a meta do programa no Martinelli.
"A nossa preocupação era como alcançar os 10% de redução do consumo diante daquele histórico de eficiência no uso racional da água", lembra Ramon.
A inquietação do engenheiro Ramon se explica porque o PURA é um programa baseado em índices de performance, ou seja, a remuneração da empresa que implanta o programa é condicionada aos seus resultados. No caso do Martinelli, a meta de 10% foi superada e a economia chegou a 75%.
"Nosso consumo em 2004 era de 3.100 m3/mês; depois da A3P e das medidas internas, passou para 2.100 m3/mês; com o PURA, estamos em 1.500 m3/mês. Hoje o Martinelli é uma referência de uso racional da água em condomínios, não sei mais o que é possível ser feito nesse sentido", resume Walter Camargo.
Procedimentos técnico-operacionais
Os procedimentos técnico-operacionais que compõem o PURA são articulados dentro de um plano de trabalho que compreende as fases de diagnóstico, pesquisa e detecção de vazamentos de água visíveis e não visíveis, identificação e correção dos vazamentos e implantação de equipamentos de baixo consumo.
No caso do Martinelli, a caracterização física da edificação e a identificação dos padrões de consumo - tarefas que integram o diagnóstico - refletiram a dimensão do prédio, que possui 240 banheiros e recebe, diariamente, 2.500 funcionários e cerca de mil visitantes.
As pesquisas de vazamento exigiram equipamentos de alta precisão. Foram utilizados geofones eletrônicos, correlacionadores de ruídos, hastes de escuta e de perfuração, entre outros equipamentos, todos manuseados por profissionais certificados no Sistema Nacional de Qualificação e Certificação (SNQC) para Ensaios não Destrutivos (END) - Método de Estanqueidade para Saneamento, da Associação Brasileira de Ensaios Não Destrutivos e Inspeção (Abende).
Na fase final do programa, foi realizada a troca das antigas torneiras e descargas sanitária por equipamentos economizadores de água. A Sabesp exige que o fabricante dos equipamentos seja participante do Programa de Qualidade do Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade na Habitação - PBQP-h, do governo federal. "Nós só podemos implantar equipamentos de fabricantes que constam na lista do Programa de Qualidade", afirma Ramon. "É uma maneira de garantir a sustentabilidade dos resultados do PURA".
As torneiras economizadoras que hoje estão em todos os banheiros do Martinelli reduzem o consumo de água a cada uso em 76%. As novas descargas sanitárias do prédio utilizam seis litros de água por acionamento, contra a média de nove a 13 litros gastos anteriormente. Ao todo, foram instalados 728 equipamentos economizadores de água no prédio.
O PURA mudou muita coisa no prédio Martinelli, menos o hábito do administrador Walter Camargo de checar o hidrômetro diariamente. "Se o consumo passa de 75 m3 por dia, acendo a luz vermelha, porque sei que alguma coisa está acontecendo".
Mas, mesmo se algo ocorrer, Walter pode contar com a garantia da Cobrape para o PURA, que é de seis meses.
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