No Dia Mundial da Água (22 de março), o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, fez um alerta ao mundo: "A água contaminada ou de má qualidade gera mais mortes do que todas as formas de violência, incluindo a guerra." E enfatizou que essas mortes, devidas à má gestão de recursos hídricos, são uma afronta à Humanidade, uma vez que há conhecimentos científicos e técnicos suficientes para administrá-los com eficácia.
No mundo todo há 884 milhões de pessoas sem acesso à água potável e outros 2,6 bilhões sem serviços de saneamento básico, causas principais de pelo menos 1,5 milhão de mortes de crianças, menores de 5 anos, registradas anualmente pelas estatísticas. No Brasil, 40 milhões de moradores de todas as regiões não são atendidos pelos sistemas públicos de fornecimento de água e 100 milhões não dispõem de serviços de coleta e tratamento de esgotos. Num mundo onde a escassez de água já é previsível são urgentes os investimentos em saneamento básico, melhor uso da água e combate ao seu desperdício. O que se vê, no entanto, é a incapacidade dos governos e da sociedade de eliminar o despejo inadequado das águas usadas e de resíduos industriais e agrícolas nos mananciais.
O Brasil detém 12% do potencial hídrico do planeta, mas várias áreas já sofrem com a escassez de água, como a região metropolitana de São Paulo e o semiárido do Norte e do Nordeste do País. De fato, apesar das dificuldades, os conhecimentos científicos e a tecnologia disponível têm ajudado a resolver a questão do abastecimento de água. Em regiões de seca, grandes canais e açudes têm sido construídos e, na maior concentração urbana brasileira, a Sabesp investe no aumento da captação, cada vez mais distante, de água, na sua produção e na melhor distribuição.
Essa universalização não se verifica, no entanto, nos serviços de esgoto. Menos da metade dos domicílios brasileiros tem coleta de esgotos (21% têm fossas sépticas). Do esgoto coletado, apenas 20% recebem algum tipo de tratamento. A maior parte é lançada nos sistemas hídricos.
Um levantamento realizado pela Agência Nacional de Águas (ANA) em mais de 2 mil pontos de monitoramento em 17 unidades da Federação revelou que apenas 9% dos mananciais foram considerados ótimos. Aproximadamente 70% alcançaram Índice de Qualidade da Água (IQA) bom; 14% foram classificados como razoáveis; 5%, ruins; e 2%, péssimos.
Pelas estimativas da ANA, há a necessidade de R$ 20 bilhões em investimentos para a proteção dos mananciais que abastecem os centros urbanos. As bacias brasileiras em pior situação de contaminação encontram-se nas regiões metropolitanas de São Paulo, Curitiba, Porto Alegre, Belo Horizonte, Vitória, Recife, Salvador, Fortaleza, Belém e Manaus. Outros R$ 260 bilhões seriam necessários para levar os serviços de saneamento básico para todos os brasileiros. Os governos têm investido nisso R$ 4 bilhões por ano, em média, ou seja, nesse ritmo mais de seis décadas serão necessárias para atingir o objetivo.
Na 2.ª Conferência Latino-americana de Saneamento, realizada entre 14 e 18 de março, em Foz do Iguaçu, o representante do Comitê de Assessoramento à Secretaria-Geral da ONU para Assuntos de Água e Esgoto, Antonio da Costa Miranda Neto, declarou que, assim como a maioria dos países da América Latina, o Brasil não deverá atingir as Metas do Milênio, firmadas no ano 2000, de reduzir pela metade, no prazo de 25 anos, o contingente de pessoas sem acesso a serviços de saneamento básico. Como esses serviços atendem, hoje, 60% do universo de moradores das áreas urbanas brasileiras, a meta seria chegar a 80% de cobertura, pelo menos.
Em 2025, grande parte do planeta poderá se encontrar no que os estudiosos chamam de stress hídrico, ou seja, não haverá água suficiente para suprir todas as necessidades.