“Eu ando sorrindo à toa, como diz a música”. É com essas palavras que Antônio José Cardoso de Morais, morador de Heliópolis há 30 anos, recebeu as chaves de sua casa nova nesta quinta-feira, 19 de novembro.

Antônio faz parte do grupo de 16 famílias que foram removidas de uma área de risco, nas margens do córrego Sacomã, e agora se mudaram para as casas tripostas construídas pelo Programa de Urbanização de Favelas da Secretaria Municipal de Habitação - SEHAB da prefeitura de São Paulo.

Para essas famílias, a mudança de casa também representa uma mudança de vida. Apesar de permanecerem na mesma área, os moradores estão diante de uma nova infraestrutura, que exige novos hábitos.

As casas possuem o térreo e mais um ou dois andares; a configuração é de um condomínio. “Foi formada uma pequena vila, as famílias gostaram muito”, disse a assistente social Cleo Granado, coordenadora do trabalho social da Cobrape em Heliópolis. A empresa é contratada pela SEHAB para desenvolver o trabalho social nos programas de urbanização que estão em curso em diversas áreas da Capital paulista.

No caso desta “pequena vila”, a equipe social da Cobrape realizou um conjunto de atividades com os moradores para prepará-los para a vida em condomínio. As ações foram voltadas para a sustentabilidade da nova infraestrutura.

“Em São Paulo não existe mais aquela história de casas populares que em pouco tempo se transformavam em favelas; hoje os processos de urbanização transformam favelas em bairros e moradores em cidadãos plenos”, diz Sandra Marques, coordenadora da área Social da Cobrape.

Antônio José, o protagonista

O maranhense Antônio José Cardoso de Morais, 51, quando fala, lembra os ilustres poetas de sua terra natal, embora ele não tenha retornado para lá desde que chegou a São Paulo. A verdade é que a Canção do Exílio, do conterrâneo Gonçalves Dias, não define o estado de espírito de Antônio José no dia da mudança para sua casa nova. “Vou para o meu castelo”, foi o que disse para as assistentes sociais da Cobrape.

Quando exercia o ofício de mestre de obras, Antônio José trabalhou na remoção de famílias de uma favela na cidade de São Paulo. “Naquela época, eu mexia com as famílias; nunca pensei que um dia iriam mexer comigo”, recorda.

Mas Antônio, sabido, aponta a diferença. “A mesma pessoa que fez a minha remoção está me levando para o meu castelo; antes não era assim, era cada um por si”. Esta é uma das vantagens da se ter uma equipe social permanentemente nas áreas em processo de urbanização - cria-se um laço de respeito e confiança entre os moradores e os profissionais que acompanham o processo de urbanização.

Contente com a mudança e com a vizinhança, Antônio está preparado para viver em condomínio. “O ambiente é muito bom, só tem gente de primeira. Falei para meus filhos que agora eu, que sou uma pessoa sofrida, tenho um bom lugar para viver”.

Sobre o acompanhamento social que recebeu, o morador faz uma avaliação positiva e ressalta que  “em qualquer plantão, em qualquer lugar, sou bem recebido”. Antônio diz que “só tem a agradecer” pelo trabalho realizado. Divertido, Antônio também conta que todas as vezes em que precisou ir até a SEHAB, que fica no prédio Martinelli, centro de São Paulo, “parecia que tinha chegado o governador lá”.

Desde que foi removido de sua antiga casa e durante todo o período em permaneceu no aluguel social, Antônio não cortou a barba. Promessa para Nossa Senhora Aparecida. Agora, de casa e vida novas, já está marcando uma ida para Aparecida do Norte e o corte da barba.