Na bacia do rio que desenha a conhecida paisagem do Recife, está em curso um projeto de desenvolvimento urbano e inclusão social de grandes proporções. Precisamente, de 46,8 milhões de dólares.
O Projeto Capibaribe Melhor terá cinco anos para requalificar o território no qual vivem mais de 225 mil habitantes e oferecer a esta parcela significativa da população da capital pernambucana um novo cenário de desenvolvimento institucional, urbano, social e econômico.
Próxima ao centro da cidade, a região da intervenção abriga de bairros elegantes a palafitas; possui parques e áreas verdes e também residências que não contam com serviços de água e esgoto.
A diversidade e a complexidade das situações que margeiam o Capibaribe levaram a prefeitura do Recife a buscar o financiamento do Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento - BIRD e o gerenciamento da Cobrape - Companhia Brasileira de Projetos e Empreendimentos para implementar o Projeto. Uma combinação que já deu certo na Região Metropolitana de São Paulo, com o Programa Guarapiranga; em Santos (SP), com a requalificação da zona de expansão da cidade; e em programas integrados desenvolvidos nas bacias dos rios Betim e Uberaba, em Minas Gerais.
Roselaine Ferreira Nunes, tecnóloga da Cobrape, está à frente da equipe multidisciplinar destacada para o gerenciamento do Projeto Capibaribe Melhor.
De Recife, ela fala sobre a atuação da empresa no Projeto.
A quais fatores você atribui a escolha da Cobrape para o gerenciamento do Projeto Capibaribe Melhor?
Como se trata de um projeto com financiamento do Banco Mundial, o processo de seleção da empresa de consultoria seguiu as normas da instituição, que valorizam a experiência em gerenciamento de programas integrados, a qualidade da metodologia proposta e da equipe indicada para executar o plano de trabalho e também a capacidade que a empresa tem de promover a transferência de conhecimento para o contratante, que no caso é a Empresa de Urbanização do Recife (URB).
A nossa proposta respondeu a todas essas exigências, atingimos as melhores pontuações e agora vamos colocar nossa experiência e nossa equipe a serviço do projeto.
Como é a área de intervenção do projeto?
Estudamos a área antes de elaborar a proposta técnica e a Cobrape possui um conhecimento anterior da região originário dos estudos que a empresa fez para a preparação de um programa de investimento que contemplou exatamente a Bacia do Capibaribe.
O que chama a atenção na região é a ocupação distinta nas margens direita e esquerda do rio. À esquerda, o espaço urbano é mais estruturado, dotado de infraestrutura e melhor qualidade de vida; à direita, há a informalidade, moradores em áreas de risco, ausência de saneamento ambiental.
Assim, o grande desafio do Capibaribe Melhor é alterar estruturalmente esse tecido urbano, amenizar a desigualdade na região com intervenções físicas e ações voltadas para as questões ambientais, sociais, econômicas e institucionais. O projeto contempla tanto a implantação de redes de água e esgoto e a abertura de vias quanto a criação de uma sistemática de participação popular e controle social sobre o território. É inovador. A prefeitura do Recife se apoiou no que existe de mais avançado em desenvolvimento urbano e social para desenhar o projeto.
E qual é o grande desafio do gerenciamento do Capibaribe Melhor?
De maneira bem resumida, a tarefa da gerenciadora é reunir todos os componentes do projeto num plano de trabalho, colocar uma equipe multidisciplinar para executar esse plano e, durante a execução do projeto, transferir a tecnologia de gerenciamento para a equipe da prefeitura, treinar esses profissionais.
Com essa metodologia, conhecida como on-the-job training, o conhecimento e a experiência da Cobrape na área de gerenciamento não servirão apenas para o Projeto Capibaribe Melhor, eles serão incorporados pela administração pública do Recife. Acredito que esse processo de transferência de tecnologia é o principal desafio que iremos enfrentar nos próximos quatro anos.
Como essa transferência acontece no dia a dia de trabalho?
Foi criada uma Unidade de Gerenciamento do Projeto (UGP) pela Empresa de Urbanização do Recife. A equipe da Cobrape permanecerá ao lado desses profissionais cuidando das áreas de gerenciamento, que abrangem a questão da integração; o escopo do projeto; suas aquisições; seu tempo, custo e qualidade; os riscos aos quais ele está exposto; a comunicação e seus recursos humanos.
As equipes serão apoiadas em suas tarefas por instrumentos e ferramentas de gerenciamento selecionados pela Cobrape e sistemas de informação capazes de monitorar as múltiplas tarefas do projeto.
E a presença do Banco Mundial nas atividades de gerenciamento? Como ela ocorre?
São as exigências e os parâmetros determinados pelo BIRD que modelam o gerenciamento do projeto e as normas são especialmente rigorosas no caso do Capibaribe Melhor.
O projeto envolve um grande contingente populacional localizado em região metropolitana, ou seja, a questão sócio-ambiental se destaca. Qualquer ação realizada nesse ambiente só será bem sucedida se houver uma forte cooperação entre organizações públicas e privadas e a sociedade civil e o Banco acaba se tornando o agente catalisador dessa cooperação.
No gerenciamento do Capibaribe Melhor, nossa equipe irá incorporar as experiências de desenvolvimento institucional que acumulamos em programas similares, também financiados por organismos internacionais.