O Programa Novo Rio Pinheiros, lançado em junho do ano passado pelo governo de São Paulo, pretende restituir à população paulistana, até 2022, um rio mais limpo, com a vida aquática recuperada e livre de odores. “Ninguém está falando de um rio que vai estar disponível para natação, para esportes de contato direto com a água. Ninguém está falando em beber a água do Rio Pinheiros. Estamos falando de um rio que tenha 100% do tempo condições aeróbias”, explica Benedito Braga, presidente da Companhia de Saneamento Básico do Estado – Sabesp, gerenciadora do Programa*.
Nas condições atuais, o Rio Pinheiros apresenta uma concentração de DBO (demanda bioquímica de oxigênio) entre 70 mg/L e 150 mg/L. A DBO indica a quantidade de oxigênio consumida para degradar a matéria orgânica presente na água. Quanto maior a DBO, mais oxigênio será consumido, causando mortandade de peixes e produção de odores. A meta do Programa é chegar a uma concentração de DBO igual ou inferior a 30 mg/L.
A estratégia adotada pela Sabesp para alcançar esse resultado tem como foco a limpeza dos córregos que deságuam no rio. Das 25 principais sub-bacias do Pinheiros, a maioria requer intervenções no sistema de esgoto para conter o lançamento in natura nos córregos. O desafio, segundo Benedito Braga, é tirar 2.800 litros por segundo de esgoto dos córregos para ter um rio que possa ser usado.
Para realizar essas intervenções, a Sabesp promoveu 16 licitações, correspondentes às áreas mais críticas. As empresas vencedoras foram contratadas na modalidade de contrato de performance, em que a remuneração é condicionada à consecução de um escopo mínimo em um período de 18 meses e ao acompanhamento e manutenção dos resultados até o prazo final de 60 meses. Os principais parâmetros para verificação do cumprimento da meta estabelecida são a concentração da DBO no córrego e o incremento do número de economias encaminhadas para tratamento.
A Cobrape integra os consórcios vencedores das licitações para duas áreas: Córrego Pedreira/Olaria, onde os trabalhos começaram em janeiro deste ano, e há inclusive previsão do cumprimento do escopo mínimo antes do prazo previsto, mesmo com as limitações impostas pela pandemia da Covid-19; e Alto Pirajuçara, com as atividades iniciadas em junho.
Complexidade do Projeto
As áreas de intervenção caracterizam-se por alta concentração populacional, grande número de invasões, ocupação inadequada de fundos de vale, moradias precárias muitas vezes avançando sobre os córregos e grande quantidade de esgoto não tratado.
Na sub-bacia do Pedreira/Olaria, segundo dados de início de projeto apresentados pela Sabesp, do esgoto gerado por 45.084 economias, 81% era coletado e 19% lançado nas ruas, nas galerias de águas pluviais ou diretamente no córrego. E do total coletado, apenas 73% era tratado. A concentração de DBO era de 129 mg/L. Para atingir a meta de redução desse valor a pelo menos 30 mg/L, deve ser encaminhado para tratamento o esgoto gerado por 13.969 economias.
A situação é mais complexa no Pirajuçara. Dada sua extensão, a sub-bacia foi subdividida em quatro empreendimentos. No lote correspondente à área de atuação da Cobrape, dados preliminares da Sabesp indicavam que do esgoto gerado por 146.497 economias, 76,88% era coletado e apenas 6,9% era encaminhado para tratamento, além de 23,12% não coletado. A meta é encaminhar para tratamento 105.832 economias e reduzir a DBO a pelo menos 75 mg/L, correspondente à cota-parte de cada um dos empreendimentos na sub-bacia para atingir os 30 mg/L em toda sua extensão.
As intervenções nas áreas são realizadas simultaneamente em três frentes: comunicação social e educação socioambiental; execução de obras e serviços de esgotamento sanitário e melhorias operacionais; e monitoramento da qualidade da água do córrego com o acompanhamento dos níveis de DBO conforme a evolução das obras.
O escopo mínimo a ser cumprido em 18 meses inclui a execução de coletores-tronco, redes de esgoto, ligações domiciliares e intradomiciliares, além de ligações avulsas e sucessivas em áreas de alta vulnerabilidade, instalação de sistemas de coleta de tempo seco e interligações no sistema de esgotamento sanitário existente
Primeiros Resultados
Com base em análises laboratoriais, que são realizadas semanalmente em vários pontos de coleta nas áreas de intervenção para medir o índice de DBO, foram projetadas e executadas na Bacia PI 36 – Córrego Pedreira, até este mês de novembro, obras físicas de implantação de um coletor tronco de esgoto de 1234,31 metros ligado a um interceptor já existente, localizado na Avenida Miguel Yunes. Desse ponto, o esgoto passa a ser enviado para o sistema de tratamento da ETE Barueri, através de um coletor tronco de 32 km.
Foram também implantados 8.018,55 metros de rede de coleta de esgoto e 3.462 ligações, transformando 4.298 economias não tratadas de TL 0 (ligações somente de água) para TL1 (ligações de água e esgoto). E ainda, 1178,16 metros e 13 interligações no sistema de esgotamento sanitário já existente, que possibilitou enviar para a ETE Barueri 8.717 economias que anteriormente eram despejadas diretamente nos córregos – totalizando 13.015 economias que passaram a ser enviadas para tratamento.
Para que todo esse processo estrutural de redes de coleta seja viabilizado, é realizado um trabalho preliminar de varredura e detecção de anomalias, com 24.240 metros executados até o momento.
Na área da Bacia PI 03 – Alto Pirajuçara, estão em execução as obras físicas de implantação de 27.496 metros coletores tronco e 202 Interligações de esgoto para possibilitar a ligação no interceptor das Avenida Miguel Yunes e o envio para a ETE Barueri, através de um coletor tronco de 32 km.
Está prevista também a implantação de redes coletoras e ligações, num total de 9.000 metros de rede de coleta e 12.000 ligações. Com essas obras, cerca de 17.000 economias não tratadas passarão de TL 0 para TL1. E outras 88.000 economias que eram despejadas diretamente nos córregos serão também enviadas para tratamento – totalizando 105.000 economias retiradas dos córregos.
O trabalho de varredura e detecção de anomalias totalizou até o momento 46.953 metros executados.
Ações Socioambientais
As ações das equipes de assistentes sociais dão suporte a todo o trabalho de engenheiros e técnicos no processo de execução de obras e serviços, desde os contatos iniciais com lideranças comunitárias e com moradores para apresentação do Programa Novo Pinheiros e para coleta de assinaturas de adesão; e a formação de grupos de trabalho com instituições parceiras para elaboração do Diagnóstico Integrado Socioambiental das áreas de intervenção.
Duas diretrizes básicas orientam as ações e atividades das equipes: a mobilização e o estímulo à participação ativa dos moradores, de forma organizada, em todo processo; e a educação ambiental e conscientização para a importância de valorizar e preservar as infraestruturas implantadas, tanto individuais como coletivas.
Entre as ações desenvolvidas, incluem-se a revitalização de pontos viciados de lixo, Instalação de caçambas para coleta de materiais recicláveis e oficinas confecção de brinquedos reutilizando esses materiais, caminhadas ambientais com grupos de adultos e de crianças, orientação para o descarte adequado de óleo de cozinha, oficina sobre saneamento básico e uso racional de água, além de medidas para prevenir o contágio da Covid-19, com a distribuição de kits de higiene e limpeza, máscaras protetoras e cestas básicas para famílias em alta vulnerabilidade social.
Mesmo com as restrições impostas pela pandemia, que limitaram as visitas domiciliares e as reuniões presenciais com grande número de pessoas, a comunicação com os moradores para informar e tirar dúvidas é uma atividade permanente, mantida através de distribuição de impressos, e-mail e telefone com aplicativo de mensagens.
Qualidade da Água
A equipe de qualidade da água acompanha os resultados dos contratos através da relação da evolução das obras e da DBO ao longo dos córregos. Esse trabalho permite a verificação da possibilidade de se atingir a meta de DBO no ponto de controle.
A concentração de DBO no ponto de controle é função da mistura da vazão e carga de DBO de esgoto lançado nos córregos, com a vazão e carga de DBO natural da bacia. O cálculo teórico desta concentração considera os lançamentos de esgoto estimados pela Sabesp e dados disponibilizados pelo DAEE – Departamento do Águas e Energia Elétrica de São Paulo.
As bacias foram divididas em subáreas para as quais foram estimadas as vazões e cargas de esgoto teóricas e vazões e cargas naturais. Conforme o andamento das obras, essas estimativas são atualizadas. Paralelamente ao cálculo teórico é realizada uma varredura em que são monitoradas a vazão e a DBO tanto no exutório dessas subáreas como na rede coletora. É esperado que ocorra a diminuição de vazão e carga de DBO ao longo do córrego, e o aumento delas nas redes coletoras conforme a evolução dos trabalhos.
As áreas onde os resultados correspondem aos esperados são identificadas e onde os resultados não correspondam são apontadas para que a varredura possa fazer investigação. São emitidos informes para o registro da evolução das obras e condições para que se atinja a meta de DBO. Caso haja uma piora das condições da concentração de DBO no córrego de alguma subárea, é emitido um alerta para que a varredura verifique a causa para que a meta não seja comprometida.
*Ver em: https://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,despoluicao-do-pinheiros-nao-vai-ser-para-natacao-nem-para-beber-agua-mas-para-voltar-a-ter-vida,70003026939