A implantação do Programa de Uso Racional da Água – PURA na Penitenciária Feminina de Santana vem se mostrando um notável caso de sucesso das ações de redução de desperdícios e de perdas de água em prédios públicos em São Paulo. A Companhia de Saneamento Básico de São Paulo – Sabesp, por intermédio do contrato com o consórcio Cobrape-BBL, iniciado em outubro de 2012, já registrou uma economia de 222.031 m³ de água entre aquele mês e abril de 2014, o que equivale ao consumo mensal de mais de 17 mil famílias. Essa economia representou uma redução de despesas de R$ 9.122.978,95 até o momento.

Graças aos excelentes resultados, a Sabesp e a Secretaria de Administração Penitenciária inscreveram o trabalho para concorrer ao Prêmio Mário Covas Ciclo 2013-2014 (10ª edição), na categoria Melhoria do Gasto Público. Com o título “Gestão de Recursos Hídricos no Complexo do Presídio Feminino de Santana”, o trabalho esteve entre os finalistas e recebeu Menção Honrosa durante a cerimônia de premiação, ocorrida na última segunda-feira, 30 de junho, na Sala São Paulo.

A Penitenciária Feminina de Santana é o maior complexo penitenciário feminino da América Latina. Conta com uma população carcerária de aproximadamente 2.700 detentas e 840 funcionários. Nos dias de visita, em finais de semana, circulam em suas instalações cerca de 4 mil pessoas. O complexo penitenciário, localizado no bairro de Santana, é composto por prédios administrativos e três pavilhões, com um total de 1500 celas.

Gestão inovadora

Dadas as características da tipologia e uso peculiar da Penitenciária Feminina de Santana, a implantação do Programa de Uso Racional da Água foi precedida de várias reuniões de planejamento, envolvendo o Consórcio “Água – Usar sem Desperdiçar”, liderado pela Cobrape, a Sabesp, a Administração da Penitenciária e a Coordenadoria das Unidades Prisionais da Região Metropolitana de São Paulo.

Nessas reuniões, foram definidos os procedimentos e regras a serem seguidos na execução das atividades do Programa, a saber: 

• Adoção de um esquema especial de vistoria que permitisse o acesso rápido dos funcionários à frente de serviços.
• Redução do tempo efetivo de trabalho nas frentes de serviço (celas), devido às características diferenciadas da tipologia.
• Liberação da frente de serviço de um pavilhão por etapa, de modo que os serviços fossem realizados em todas as celas de uma só vez, reduzindo as etapas dos serviços de implantação; e criação de corredores de passagens no piso térreo para não haver contato das detentas com a equipe do Consórcio.
• Disponibilização do Regimento e Procedimento Interno e de Segurança da PFS para os funcionários envolvidos no Projeto.

O trabalho, apesar das difíceis condições de execução, em virtude das características de seu uso, mostrou, desde as primeiras ações, resultados expressivos. O consumo de água médio anterior ao início das atividades (outubro de 2011 a setembro de 2012) era de 56.424 m³/mês; em abril de 2014 já havia diminuído para 34.038 m³, correspondendo da uma economia de cerca 40%.

Segundo o engenheiro Alceu Guérios Bittencourt, diretor da Cobrape, nessa projeção de economia, o investimento no contrato será recuperado antes mesmo da conclusão dos trabalhos.

A sequência de atividades desenvolvidas é a que segue: 

•  Levantamento inicial e caracterização.
• Pesquisa e correção de vazamentos.
• Recuperação estrutural e impermeabilização de reservatórios.
• Programa de educação ambiental.
• Implantação do sistema de recirculação da água quente (chuveiros).
• Substituição das redes de água de alimentação e distribuição do complexo penitenciário.
• Substituição dos equipamentos hidráulicos convencionais por equipamentos economizadores.
• Gestão do consumo de água utilizando o sistema de telemedição dos três hidrômetros existentes na penitenciária.
• Gestão do consumo de água da área interna da penitenciária utilizando o sistema de telemedição por rádio frequência através da setorização e implantação de 161 hidrômetros e válvulas esféricas.

A grande inovação adotada nesse contrato foi a gestão de consumo através da setorização interna do complexo. Foram implantados 161 hidrômetros que utilizam a comunicação de dados por radiofrequência e também a implantação de 161 válvulas esféricas que permitem os acionamentos através do sistema de gestão de consumo disponível via Web e também via celular.

Por meio desse monitoramento passa a ser possível identificar imediatamente locais suspeitos com vazamentos, consumos excessivos e desperdícios no consumo de água.

Números do PURA

O PURA foi criado pela Sabesp em 1996. Os resultados alcançados ao longo de 18 anos são bastante significativos, seja em termos de redução do consumo de água, preservação de mananciais e diminuição de despesas dos entes públicos que adotaram as medidas.

Em termos mais amplos, considerando todas as ações educativas e o desenvolvimento de equipamentos economizadores em cooperação com a indústria, pode-se dizer que as ações coordenadas a partir da criação do PURA ajudaram a reduzir em 29% a média de consumo por economia residencial na Região Metropolitana de São Paulo desde 1996.

O Programa já foi implantado em 2.751 imóveis públicos – entre estaduais, municipais e federais – da RMSP. Com as medidas implantadas, 161 milhões de litros de água deixam de ser consumidos mensalmente por esses órgãos.

No governo do Estado de São Paulo, outro exemplo significativo de sucesso, além da Penitenciária Feminina de Santana, 345 escolas estaduais adotaram o Programa. Nelas, o consumo caiu 37% e a economia mensal chegou a R$ 1,48 milhão. O investimento inicial – de R$ 8,88 milhões – pagou-se em seis meses.