As águas do Rio São Francisco já começaram a chegar à Paraíba. No último dia 10 de março, em cerimônia comandada pelo Presidente Michel Temer, foi aberta a tomada d’água na Barragem de Campos, no Município de Sertânia, em Pernambuco, distante 30 quilômetros, de onde as águas seguiram percorrendo o canal da transposição pelo Eixo Leste, atravessaram a fronteira entre os dois estados através do túnel Jean Carlo, e chegaram até a estrutura de controle, seguindo por galeria e desaguando no Rio Paraíba, na área urbana da cidade de Monteiro. Em poucos minutos, o Paraíba, seco há pelo menos seis anos, recobrou toda sua vitalidade, diante dos olhares incrédulos dos moradores locais.

As águas seguem agora pelo leito do rio em direção aos reservatórios Poções e Camalaú, onde estão sendo realizadas intervenções pelo governo do Estado, através da Secretaria de Estado da Infraestrutura, dos Recursos Hídricos, Meio Ambiente e Ciência e Tecnologia – SEIRHMACT, para alguma desobstrução ao longo do leito do rio e abertura de espaço nos vertedouros das barragens, de modo que não seja necessário aguardar que os açudes encham para que as águas sigam seu caminho natural. A estimativa inicial da Secretaria é que cheguem a esses reservatórios, e também ao Epitácio Pessoa, no Município de Boqueirão, em 45 dias.

Com a chegada ao Epitácio Pessoa, será feita a recarga do Reservatório até que atinja a cota suficiente para a retomada do abastecimento de Campina Grande e de outras cidades da região. Normalizado o abastecimento, as águas do São Francisco prosseguirão pelo Rio Paraíba até chegar ao Reservatório Acauã, onde se dá a captação para alimentação do Canal da Integração Acauã-Araçagi.

Maior e mais importante obra hídrica já realizada na Paraíba, o Canal Acauã-Araçagi, com um percurso de cerca de 113 km, deve garantir o suprimento regular de água bruta a 38 municípios da planície costeira interior do Estado, beneficiando 600 mil moradores, e a irrigação de 16 mil hectares de terras para agricultura.

Gerenciamento do Projeto

O projeto do Canal Acauã-Araçagi, em execução pelo governo do Estado e gerenciado pela Cobrape, segue em ritmo acelerado neste ano de 2017, com a promessa de empenho de mais 150 milhões de reais para a continuidade das obras pelo governo federal, através do Ministério da Integração Nacional, além dos 60 milhões de reais já garantidos no final de 2016, segundo informações da SEIRHMACT.

“Nossa expectativa é que, com o esforço conjunto de todos os atores envolvidos no empreendimento, e sobretudo com a regularidade nos repasses do governo federal, as novas metas sejam cumpridas dentro dos prazos estipulados”, diz o engenheiro Gilmar Ferreira da Silva, coordenador da equipe técnica da Cobrape.

A empresa é responsável pela coordenação da elaboração do projeto executivo e dos trabalhos em execução no empreendimento, desde a etapa de desapropriação das áreas por onde passam as obras, as ações de meio ambiente e segurança, até a execução física do projeto, tanto na parte qualitativa como quantitativa, planejando todas as etapas para que sejam cumpridos os prazos acordados contratualmente.

Para isso, conta com uma equipe técnica multidisciplinar atuando em todas essas áreas no apoio à SEIRHMACT, coordenada por profissional com larga experiência nesse tipo de obras. Antes de integrar a equipe da Cobrape, o engenheiro Gilmar Ferreira da Silva trabalhou durante 12 anos na implantação do Projeto de Integração do Rio São Francisco, desde o seu início, primeiramente na coordenação geral de campo, pelo Ministério da Integração Nacional e, posteriormente, no gerenciamento do empreendimento.

Andamento das Obras

O projeto do Canal Acauã-Araçagi compreende 17 segmentos de canais abertos com seção trapezoidal, totalizando 105,76 km, intercalados por cinco trechos de sifões invertidos, construídos em tubos de aço, para ultrapassar vales de rios e córregos, totalizando 22,92 km; sete aquedutos, totalizando 1,69 km; e 0,21 km de galerias para travessias de ferrovia e rodovia. O sistema foi projetado para trabalhar totalmente por gravidade e transportar vazões que variam de 10 m³/s no trecho inicial a 2,5 m³/s no trecho final.

As obras foram divididas em três lotes.

No Lote 1, já foram concluídas as obras do canal de aproximação, barragem, tomada de água, segmentos de canal 1 e 2A, Sifão Surrão, Sifão Ingá e Aqueduto Mogeiro. Estão em execução pequenos complementos de canais, galeria sob a ferrovia, drenagem de pé de corte, revestimento primário das bermas, regularização de taludes internos em corte em material de 1ª categoria e proteção com plantio de grama, nos segmentos de canal 2B, 2C e 3. Há ainda a executar os serviços de macrodrenagem, regularização e proteção com enrocamento fino dos encabeçamentos dos sifões Surrão e Ingá e Aqueduto Mogeiro.

O Lote 1 encontra-se com 86,62% de execução física e financeira, com conclusão prevista para o final do mês de abril.

No Lote 2, estão em andamento os serviços no Sifão Curimataú, como as estruturas de concreto nas transições de montante e jusante, além de montagem hidromecânica, terraplanagem nos segmentos de canal 4A e 4B, terraplanagem e montagem de tubos no Sifão Gurinhém, e execução de infraestrutura e mesoestrutura de uma das quatro pontes existentes no Gurinhém.

O Lote 2 encontra-se com 27,30% de execução física e financeira.

O Lote 3 está na fase de instalação de canteiro de obras, mobilização de pessoal e equipamentos. A execução física e financeira é de 0,00%.

O empreendimento, considerados os três lotes, está com um avanço financeiro da ordem de 47,81%.

Projeto de Integração

As obras em execução fazem parte do Projeto de Integração do Rio São Francisco, concebido para levar água a cerca de 12 milhões de habitantes da região do semiárido dos estados de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte.

O Projeto vai atender a Paraíba pelos dois eixos do empreendimento, o Leste e o Norte. O percurso da água no Eixo Leste começa na cidade pernambucana de Petrolândia, a 429 quilômetros de Recife. A água é captada na barragem de Itaparica e segue por 208 quilômetros até chegar ao Açude Poções, em Monteiro, passando por seis estações elevatórias, cinco aquedutos, 23 segmentos de canais e ainda 12 reservatórios.

O Eixo Norte captará a água do São Francisco no Município de Cabrobó, em Pernambuco, e a conduzirá por 260 km até o Reservatório Engenheiro Ávidos, no Município de São José de Piranhas, garantindo o abastecimento de diversas cidades da Bacia do Rio Piranhas e a segurança hídrica em açudes estratégicos no Estado.