A severa crise no abastecimento de água enfrentada hoje pela macrometrópole paulista e a incerteza quanto às condições hidrológicas dos próximos anos exige a antecipação e a aceleração de todas as ações projetadas anteriormente visando garantir o bem-estar da população e a continuidade do desenvolvimento da região – o que implica também repensar o valor econômico da água. O alerta foi feito pelo engenheiro Alceu Guérios Bittencourt, diretor da Cobrape e presidente da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental – Abes/SP, na abertura do I Fórum Técnico Internacional Reúso Direto e Indireto de Efluentes para Potabilização.
O evento, realizado nos 15 e 16 de outubro na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, teve a participação de técnicos estrangeiros que relataram experiências de sucesso na potabilização de água na Namíbia, México e Estados Unidos, além de especialistas brasileiros, como os professores Victor Wünsch Filho e Pedro Mancuso, da FSP/USP, Ivanildo Hespanhol, diretor do Centro Internacional de Referência em Reúso de Água, Otávio Okano, presidente da Cetesb, e Daniel R. Fink, Procurador de Justiça do Ministério Público do Estado de São Paulo.
Para o engenheiro Alceu Bittencourt, a gravidade do problema enfrentado é também a oportunidade de pensar em novas tecnologias e processos para o melhor aproveitamento dos recursos hídricos disponíveis, entre as quais o reúso da água para potabilização. O reúso de efluentes já é bastante utilizado no Brasil em processos industriais, mas ainda existem barreiras regulatórias nas leis para viabilizar esse processo também para consumo humano.
“É preciso acelerar o processo de decisão a partir de hoje, realizar uma gestão de curtíssimo prazo para atender às questões emergenciais e à situação que temos pela frente, que não sabemos bem qual é – mas que é certamente uma situação alterada”, defendeu o engenheiro. Ele lembrou que São Paulo já enfrentou uma situação de estiagem prolongada entre 1950-1955 que, caso se repetisse no contexto atual, poderia ser agravada pelos efeitos das mudanças climáticas.
Alceu Bittencourt sustenta que é preciso dar celeridade às medidas propostas no Plano Diretor de Aproveitamento de Recursos Hídricos para a Macrometrópole Paulista, elaborado pela Cobrape para o Departamento de Águas e Energia Elétrica e concluído no final do ano passado. Com base na estimativa da demanda de água na região até 2035, o Plano propõe novos esquemas hidráulicos, assim como medidas de gestão e controle operacional, como a redução de perdas nos sistemas e abastecimento, programas de uso racional em edificações públicas e investimentos em novas tecnologias.
“A priorização dessas medidas evidentemente elevará o custo da água”, reconhece o engenheiro. Mas afirma que esse é o preço a pagar para garantir a segurança hídrica da macrometrópole. Ele rebate a ideia de alguns de que é preciso deter o desenvolvimento econômico em face de condições desfavoráveis como a enfrentada atualmente.
“A macrometrópole é uma área de grande potencial para o desenvolvimento econômico do Brasil. Não tem sentido falar de restrição do desenvolvimento. Temos que continuar crescendo.” Ele lembra que, embora se trate da região mais rica do País, a macrometrópole ainda está longe de alcançar o patamar de desenvolvimento dos Estados Unidos e da Europa. Assinala que o PIB per capita da região, atualmente de 19 mil dólares/ano, é menos da metade de muitos países europeus.
“Precisamos de água”, concluiu Alceu Bittencourt. “Precisamos pensar seriamente em como encaminhar as coisas daqui para frente, nas condições institucionais necessárias para a intensificação de todas as ações que garantam a segurança hídrica da macrometrópole, incluídos investimentos em novas técnicas de reúso”.
