Descanalizados, despoluídos e devolvidos à paisagem da cidade. A transformação que acontece nos cursos d’água de Belo Horizonte servirá como exemplo para metrópoles do mundo inteiro.
O Programa de Recuperação Ambiental de Belo Horizonte – DRENURBS receberá uma menção especial durante a cerimônia de entrega do Metropolis Awards 2010. A premiação é promovida a cada três anos pela Metropolis - Associação Mundial de Grandes Metrópoles, e coincidirá com o X Congresso Mundial da entidade, a ser realizado de 23 a 26 de novembro no Brasil.
“De agora em diante teremos mais exemplos de boas práticas para mostrar e compartilhar com as demais cidades da Associação”, afirmou o secretário-geral da entidade, Josep Roig, em carta dirigida ao prefeito Marcio Lacerda.
Metrópoles dos cinco continentes integram o grupo. Dentre as brasileiras, além de Belo Horizonte, figuram São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Porto Alegre, que será sede do congresso de novembro.
Drenurbs traz inovação na concepção, engenharia e trabalho social
Ao partir de uma concepção moderna, o DRENURBS entra em um necessário conflito com o passado de Belo Horizonte.
Durante muito tempo, a cidade enxergou na canalização de seus córregos a solução para todo o tipo de problema – enchente, esgoto, lixo, doenças sanitárias e até a falta de espaço para a circulação de dodges, corcéis, veraneios e chevettes.
O historiador Yuri Mello Mesquita resgatou o estado de espírito da cidade em relação aos seus cursos d’água na década de 70 a partir de uma matéria do jornal Diário de Minas sobre a canalização do córrego Acaba Mundo: “[...] era um verdadeiro emissário de esgoto ao céu aberto, poluindo extensa área da capital, comprometendo a saúde dos moradores e prejudicando o ambiente e a visão estética de uma zona das mais nobres de Belo Horizonte, foi inteiramente canalizado implantando-se em seu lugar uma ampla e bonita avenida”. (1/7/1973)
Na contramão da criminalização dos córregos, o DRENURBS propôs a integração das águas com a vida da cidade e está resgatando os cursos d’água que se salvaram da onda da canalização.
Limpos, com avançados recursos para controle de cheias e de produção de sedimentos e criadores de novos e valorizados espaços coletivos, os córregos de Belo Horizonte estão sendo tratados segundo o conselho do mineiro Carlos Drummond de Andrade: “Melhor é deixar o corgo brincar de ser rio”.
Para promover essa transformação, foi utilizada uma combinação de engenharia e trabalho social
Na área da engenharia, a Cobrape criou o Modelo de Gestão Integrada das Águas de Belo Horizonte para atender às exigências do DRENURBS e da Política Municipal de Saneamento, que não são poucas. Metas como a redução dos índices de inundação, melhoria da qualidade das águas e do sistema de drenagem da cidade pautaram a elaboração do novo modelo.
Outra contribuição da Cobrape foi a aplicação de modelos matemáticos, hidrológicos e hidráulicos nas bacias hidrográficas abrangidas pelo Programa. Esse trabalho possibilitou a criação de um verdadeiro mapa das enchentes na cidade e ensejou medidas preventivas, como a Carta de Inundações que a cidade utiliza para planejar obras e ações contra cheias.
Com suas ações e obras, o Programa já conseguiu sanear cinco bacias hidrográficas – a do Córrego 1o. de Maio, a bacia do Córrego da Avenida Nossa Senhora da Piedade, do Córrego Baleares e dos Córregos do Engenho Nogueira e Córrego do Bonsucesso. Nos dois últimos, ainda estão em andamento intervenções de esgotamento sanitário.
Quase 70 mil pessoas habitam essas áreas e foi para cuidar delas que a Secretaria Municipal de Políticas Urbanas de Belo Horizonte contou com o trabalho social realizado pela Cobrape.
Trabalho social - Métodos inovadores desenvolvidos por técnicos sociais da Cobrape - assistentes sociais, psicólogos e sociólogos, promoveram a inclusão das famílias em todas as etapas do programa. "Esse trabalho é especialmente importante nos casos em que residências e estabelecimentos comerciais ou de serviços devem ser relocados", ressalta Cintia Ivelise Gomes, assistente social e coordenadora do segmento de Políticas Públicas Sociais da Cobrape/BH.
Cintia está à frente da implantação e monitoramento do Plano de Desapropriação, Indenização e Relocalização de Famílias e Negócios (PDR) do DRENURBS. Cerca de 3.500 famílias foram atendidas pelo plano, que encerra suas atividades em setembro, mas deixa um legado de conhecimento para as comunidades beneficiadas.
No final de maio, por exemplo, foi realizada a primeira assembleia de condomínio do Residencial Castanheiras, conjunto de 128 apartamentos construído para famílias que foram relocadas por obras do DRENURBS. Foram os próprios moradores que conduziram os trabalhos da assembleia, definiram as comissões responsáveis pela gestão do condomínio, aclamaram o regulamento interno e até escolheram o nome do residencial.
"Nossa equipe ficou muito satisfeita com a assembleia, foi uma demonstração da autonomia das famílias e da segurança que elas adquiriram em relação ao seu novo ambiente", diz Cintia. "Esse é o melhor resultado que se pode esperar de um trabalho social", comemora.
Monitoramento e avaliação – exigências do BID para o trabalho social
O DRENURBS é um programa de longo prazo e financiado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Em outras palavras, a sustentabilidade de suas intervenções e o grau de desenvolvimento propiciado por elas é o que importa.
Na área social, o desafio colocado pelo BID foi a implantação de sistemas de monitoramento e avaliação.
Durante a execução do programa, o monitoramento permitiu a adequação dos rumos e estratégias do trabalho social. Na fase posterior, com as obras concluídas, os novos espaços urbanos criados e as famílias estabelecidas, a avaliação foi o instrumento que mediu, por exemplo, a satisfação das pessoas com relação às intervenções.
“Elaboramos um sistema específico para o DRENURBS, de acordo com as orientações do BID e também com inovações conceituais propostas pela nossa equipe. Em Belo Horizonte, foi um trabalho inédito”, relata o sociólogo da Cobrape Adilson Marques Fernandes.
A equipe social da Cobrape/BH executou seis pesquisas em quatro sub-bacias da cidade e avaliou quesitos como habitabilidade, inserção urbana, inclusão social e grau de satisfação das famílias relocalizadas pelo programa.
CONHEÇA O TRABALHO DA COBRAPE NO DRENURBS
Concepção e Implantação de Modelo de Gestão Integrada das Águas Urbanas em Belo Horizonte - Programa DRENURBS
Modelagem Matemática, Hidrológica e Hidráulica do Sistema de Macrodrenagem das Bacias Hidrográficas dos Ribeirões Arrudas e Onça - Programa de Recuperação Ambiental de Belo Horizonte - DRENURBS
Implantação e Monitoramento do Plano de Desapropriação, Indenização e Relocalização de Famílias e Negócios (PDR) - Programa de Recuperação Ambiental de Belo Horizonte - DRENURBS
Supervisão de Anteprojeto, Projetos Básicos, Executivos e Serviços Preliminares de Obras de Infraestrutura - Programa de Recuperação Ambiental de Belo Horizonte - DRENURBS
Belo Horizonte usa Carta de Inundações para combater enchentes
Sandra Di Croce Patricio, da Assessoria de Comunicação
